segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A catástrofe da paralisia

Relatos na primeira pessoa. Relatos de perda; de um mundo que mudou de um dia para o outro; da confiança e da desconfiança no sistema; do sentido de dever; da fé no homem soviético; da coragem, da imprudência e da bravata; do medo; de amor; de outras guerras e desta nova guerra; da falta de conhecimento, da incompreensão, do medo do conhecimento e dos dilemas de quem conhece; da obediência; da revolução; da resistência; do desespero; da culpa; da justificação; da reflexão; da sobrevivência; da vida com a natureza. Fragmentos de vidas. Vida que poderiam ter sido diferentes.

"Já as regras do jogo pressupõem que, se não agradares aos teus superiores, não serás promovido, não irás de férias para o sítio que queres nem receberás uma datcha melhor... Tens de agradar... (...) Tinham mais medo da ira dos superiores que do nuclear. Cada um aguardava por um telefonema, uma ordem, mas não tomava nenhuma iniciativa. Era o medo da responsabilidade pessoal."

Extrato do testemunho de Vassíli Boríssovitch Nesterenko, antigo diretor do Instituto de Energia Nuclear da Academia das Ciências da Bielorrúsia, e da impotência para ultrapassar a catástrofe da paralisia.

Em "Vozes de Chernobyl - História de um desastre nuclear", de Svetlana Alexievich (2013).




Sem comentários: