sábado, 28 de setembro de 2013

Colocar em perspetiva

Notas no Click de 28 de setembro, Antena 1 (áudio em http://www.rtp.pt/play/p384/e129892/click).

Estamos imersos em informação, números, estatísticas. Compara-se a área ardida neste verão com a do ano passado. A atividade económica mede-se trimestre a trimestre; os dados do desemprego mês a mês. Em cada semana antecipa-se a variação do preço dos combustíveis. As bolsas vivem do dia a dia, do intra-dia ou dos futuros que estão a chegar, e as decisões são tomadas por algoritmos a velocidades que já não são humanas.

Esta superabundância de informação gera uma perceção da realidade cada vez mais baseada no imediato, e uma enorme pressão para reagir instantaneamente – em tempo real, diz-se, como se os outros tempos fossem menos reais. A perspetiva de conjunto, a reflexão e a compreensão perdem terreno para o quanto, agora e já.

Este ano houve menos candidatos ao ensino superior público. Reclama-se, em consequência, a reorganização da rede de instituições: é preciso reduzir, concentrar, talvez fundir. Há quem diga mesmo que 4 ou 5 universidades seriam suficientes. Isto apesar da fusão de duas universidades em Lisboa não ter por objetivo reduzir custos, nem sequer reorganizar a oferta de cursos; mas tão somente aumentar dimensão e promover interdisciplinaridade.

Ganhemos alguma distância. Em 1990 eram cerca de 95 000 os estudantes que frequentavam as universidades públicas. Em cerca de 20 anos o número duplicou, aproximando-se dos 200 000. As universidades, que contribuíram para esta massificação do ensino superior, são exatamente as mesmas que hoje existem: não foram criadas quaisquer outras nos últimos 25 anos. O eventual excesso de oferta não resulta, por isso, de uma proliferação desregrada de universidades. Nem sequer significa que já não seja preciso formar tantos portugueses. Na realidade Portugal continua a apresentar níveis de formação da população inferiores à maioria dos países com quem se compara e à meta que para si traçou.

Olhar para o passado não é o mesmo que viver o presente, ou que imaginar o futuro. Mas deve fazer parte da reflexão necessária, sobretudo quando se fala de instituições, ou de sistemas, que demoram décadas a afirmar-se, mas que podem definhar em poucos anos. Precisamos transformar informação em conhecimento, reduzindo o ruído, para melhor decidir. Por maioria de razão quando o tema é o próprio ensino superior.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

E a Grécia aqui tão perto ...

Do que se passa na Grécia pouco nos chega. O passado recente parece ter sido empurrado para um buraco escuro, onde convivem resgates, austeridade, perdões de dívida, fantasmas de saída do euro e de contágio europeu, imagens de manifestações e de caos em praças, reportagens sobre vidas em ruínas.

A comunicação já há muito abandonou os gregos. O tempo lento da recuperação, da estagnação ou do colapso não serve. Não nos serve, a nós, consumidores da comunicação.

Os políticos portugueses preferem, ainda que em discursos vagos, uma Irlanda de mares frios, restos de miragens anglo-saxónicas, a uma Grécia mediterrânica, renegando uma história com mais em comum. Renegando mesmo a simples menção a um país e a um povo, com medo que a palavra atraia a mesma desgraça.

Que lições se tiram afinal do "caso" grego? Assunto esquecido. Assunto perdido.
E os gregos, europeus mas gregos? Vivem. Sobrevivem. Longe dos nossos olhares.

Hoje ecoam notícias da Grécia. As Universidades estão a parar. Segundo o Guardian há já casos em Atenas, Salónica, Patras, Ioannina, Creta (http://www.theguardian.com/world/2013/sep/25/austerity-measures-push-greek-universities-collapse). Falta pessoal na administração. Resultado de quatro anos de crise que serviram para erodir barreiras constitucionais. Resultado dos expedientes que antecedem o despedimento. Resultado de um programa de mobilidade que se destina a imobilizar pessoas. Linguagens orwellianas que cá adoptam estas e outras formas: requalificação, ajustamento, mudança de paradigma.

Não se reforma. Não se escolhe. Vai-se cortando e recortando. Em tudo e em todo o lado. Para lá do aceitável. Para lá do recuperável.

Tudo soa familiar, demasiado familiar.
Os anos passam e a Grécia aqui tão perto, ao virar da esquina, ao virar do ano que aí vem.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

CCquê?

CCES - Conselho Coordenador do Ensino Superior.
Já ouviu falar?
Não?
É natural.
Não funciona!

A reorganização da rede (de instituições e ou de cursos) de ensino superior voltou a ser notícia, a propósito dos resultados da 1ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior público. E com ela regressou à agenda o relatório Portuguese Higher Education: a view from the outside, elaborado pela European University Association (EUA), em fevereiro de 2013. Este documento (http://www.eua.be/Libraries/Publication/CRUP_final_pdf.sflb.ashx) contém 43 recomendações, das quais nada menos que 16 (!) mencionam o CCES.

O CCES consta do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), que, pela mão do Ministro Mariano Gago, entrou em vigor em 2009. O Ministro Nuno Crato concordará com o CCES, uma vez que, nas numerosas alterações ao RJIES, que recentemente propôs, nada modificou nesta matéria (http://www.snesup.pt/htmls/EFZuVAVpyFqRSUNLbi.shtml). Prevê-se portanto a manutenção de um CCES com missão de aconselhamento, no domínio da política de ensino superior, do membro do Governo responsável por esta área.

Mas a equipa da EUA atribui-lhe, no entanto, um papel mais decisivo, com um formato diferente e funções acrescidas: a elaboração de uma estratégia nacional para o ensino superior; a aprovação das estratégias de cada instituição, para garantir a articulação com o todo nacional e comas políticas de desenvolvimento regional; a ligação entre estratégias e contratos de financiamento de base plurianual.

Uma questão que recebeu pouco eco, desde fevereiro de 2013. Talvez por ser mais complexa do simples cortes, fechos ou fusões. Talvez por implicar uma discussão de, pelo menos médio prazo, que se reclama mas em simultâneo se evita. Talvez por estar fora dos ciclos políticos. Talvez por implicar uma drástica alteração de poderes.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

3 perguntas autárquicas

Não gosto de campanhas feitas de ruído.
Não gosto de campanhas feitas para manipular.
Não gosto de campanhas feitas para formar rebanhos.
Não gosto de campanhas feitas de papéis e plásticos para deitar fora.
Não há espaço nas "nossas" campanhas para esclarecer.

Neste período de campanha aberta a que se convencionou chamar pré-campanha, e à atenção dos candidatos, eis o que gostava de saber:

1 - Qual a situação financeira da Câmara Municipal?
2 - O que se propõe fazer quanto a isso?
3 - Quais as principais iniciativas que propõe sem gasto de dinheiros públicos?

[mensagem de reprodução livre, para uso à discrição, em conversa com candidatos, nas redes sociais, nas páginas dos ditos, onde acharem conveniente]