sábado, 1 de dezembro de 2012

A Rede, em versão radiofónica

Adaptação radiofónica da entrada A Rede (I), para o Click, emitido hoje, na Antena 1:
http://www.rtp.pt/programa/radio/p3053/c100659

As redes são feitas de linhas e de nós; de cruzamentos e ligações; os fios podem ser finos ou espessos; e os nós grandes ou pequenos; as redes podem assumir diferentes formas e padrões, regulares ou irregulares; umas são densas, outras rarefeitas. E todas têm usos próprios.

Da rede de ensino superior diz-se que deve ser racionalizada; que tem instituições a mais; que é necessário reduzir custos, gastar menos ou distribuir por menos. Pouco se fala do seu uso actual e, menos ainda, do uso que deverá ter. Ora esta rede não é apenas uma, mas várias.

Existe a rede de licenciaturas e mestrados que, na verdade, de rede pouco tem. Tem os nós - universidades e politécnicos – mas são escassas as ligações entre eles: alguns cursos partilhados, alguns professores que se deslocam. Esta rede, pouco rede, mexe, no entanto, com uma outra - a da ocupação do território, das cidades e das vilas, das estradas e dos caminhos de ferro; algumas centenas de milhares de estudantes movem-se para os nós onde se ensina; por vezes regressam à origem; muitas outras, não.

Existe, também, a rede de investigação, em que grupos de diferentes instituições, sobretudo de universidades públicas, colaboram entre si, criando conhecimento. Esta rede não é apenas nacional; faz parte de outra muito mais vasta, com fortes ligações à Europa e para além dela. A investigação é, seguramente, uma das atividades mais internacionalizadas do País, baseada numa grande mobilidade de docentes e investigadores, e em significativos fluxos financeiros.

Existe, ainda, uma terceira rede, que envolve empresas, instituições públicas e associações. Através dela usa-se o conhecimento de um modo mais alargado, trabalha-se em conjunto, criam-se e aperfeiçoam-se produtos e serviços, atualizam-se conhecimentos. Aqui emergem muitos outros nós, para além das universidades e politécnicos, bem como uma diversidade de ligações, locais, regionais e nacionais.

Mexer num simples nó da rede de ensino superior é mexer em todas estas redes. É possível; é inevitável; e é mesmo desejável. Mas para o fazer bem é preciso compreender todas estas dimensões e, desde logo, saber o que se quer, tendo presente que diferentes pessoas querem diferentes países, ainda que todos sejam Portugal. É por tudo isto que a dita racionalização não pode ter apenas por base a linha das despesas, nem ser feita por mero decreto.

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